Ritual e drogas

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008 Leave a Comment

Ritos, é disso que irei falar na data de hoje. Tema arduamente discutido pela antropologia, sociologia, teologia, e não dispensáveis, os completamente leigos. Meu discurso aqui é justamente este, diferente parâmetros do entendimento do ritual, mais especificamente sobre rituais que envolvem a utilização de substâncias enteógenas, que mesmo entre praticantes também possa ser mal entendido. Não que eu esteja completamente livre de erros, claro que não, mas acredito que quando alguma pessoa enxerga numa questão de totalidade e dualidade a sua compreensão se expande, não é que ela saiba mais que os demais, ela simplesmente percebe a conexão entre diferentes pontos de vista. Eu acredito ter encontrado certas conexões, nada inviolável, nem nenhuma tese, e sim teorias minhas que decidi há um tempo explanar as pessoas; afinal de conta este blog justamente foi criado para se falar sobre diferentes aspectos e manifestações da realidade, me permitindo certo escape é claro.

Antes de tudo, o que é um ritual? Ritual é uma prática, religiosa ou não, que segue determinadas premissas. Pode ser de diferentes espécies, de contágio ou negativo, mas não é isso o que importa aqui, e sim a razão da existência do ritual. Basicamente ritual significa "fazer a coisa certa do modo certo", lembrando que este "certo" é subjetivo, pois assim como os rituais variam de acordo com a cultura, o significado de "certo" também varia de acordo com a cultura.

Tendo dado certa explicada sobre o que viria a ser um ritual, venho a falar o que é um enteógeno. O enteógeno é uma substância capaz de elevar as capacidades dos sentidos humanos, literalmente ver e ouvir melhor, podendo-se incluir o que chamam de alucinações. A prática de enteogenia pate do princípio que com a utilização destas substancias, cada uma possuindo sua função, a pessoa é capaz de acessar diferentes campos da realidade, expandindo sua consciência e compreensão da realidade. Em suma isso seria a enteogenia.

Agora a relação entre enteogenia e rituais, no caso seria religiosa, ocorre desde tempos imemoriais. É de conhecimento científico que os astecas se utilizavam de certas plantas, algumas ainda utilizadas até hoje, como o Wachuma. De acordo com os diferentes textos que já li e observações participantes que já tive, todas as práticas deste tipo acreditam que o uso destas plantas lhe poe em contato com uma entidade específica. Que no caso seria uma força existente pra determinada função, e para suprir de seus benefícios é exigido uma forma de comportamento.

Podemos ver isso claramente com o uso ritual do Peyote pelos índias da região de Sonora (México), para ser utilizar o Peyote, que deve ser chamado respeitosamente de Mescalito, há regras que vão desde o local onde você especificamente deve pegar a planta, como levá-la ao local onde será utilizado, o modo de modo (lembrando que há diversos modos de se preparar Mescalito, mas no caso específico se come-o direto, mas nunca em sua região de afloramento) e mesmo após os efeitos começarem você possui certas regras de como se comportar dentro desta outra realidade.

Mas este foi somente um exemplo, o que desejo realmente falar é o equívoco das pessoas julgarem certas crenças como "desculpa para se drogar" ou até mesmo unicamente permitir que se use ritualmente substâncias que os índios usam, nunca drogas já urbanizadas como o hashish e a maconha.
Antes de tudo sobre a "desculpa para se drogar", é um equívoco afirmar que uma crença se baseia nisso por diversos fatores. O primeiro é que realmente há crentes nelas, ou seja, eles utilizam a planta por realmente acreditarem, julgar o geral devido ao comportamento de alguns é um argumento que nem levo para a mesa de discussões. O segundo ponto são as regras para o consumo, coisa que não existe para as drogas ilícitas. Outro ponto a se discutir, e o mais polêmico, é a outra realidade, acusada de alucinação. Seria alucinação somente se este outro estado de percepção não seguisse regras, como as nossas leis da física, porém diferentes. Não é uma realidade flexível, ela é previsível, possui elementos fixos, regras e acima de tudo, praticidade. Se fosse puramente uma alucinação, de nada serviria, coisa que não ocorre na enteogenia. Ela possui um propósito e serve como ferramenta para algo, do que poderia chamar? Visões? Feitiçaria? Poderia ser o que for, pois não possui nome. Simplesmente é uma realidade diferente da que vivemos a maior parte do tempo, mas ela é presente ao sonharmos. Esse mundo alucinado, o mundo xamânico, nada mais é do que o mundo dos sonhos.

O que não pode ocorrer é o equívoco na crença de que a enteogenia é se drogar no sentido pejorativo. É óbvio que muitos fazem usos recreativos, mas sua função e utilidade não são estas. Além do mais, todas as religiões do mundo, pelo menos 90%, possuem suas origens no xamanismo, e não é questão de evolução, é uma questão cultural. Se houve uma mudança na cultura de certa região, todas as suas instituições irão se alterar também. Há melhor exemplo do que as religiões afro-americanas e a introdução de santos católicos em suas crenças?

Pois bem, afirmar que crenças enteógenas são práticas para o fim de se drogar e curtir aquela onda, além de ser um equívoco na falta de reflexão e estudo é também uma discriminação cultural devido à ignorância sobre as raízes religiosas e os reais fatores de mudança determinantes. A evolução biológica, social e espiritual só ocorre quando as mudanças que ocorrem são benéficas, criticar a prática natural da enteogenia além de ser um ato de ignorância, é negar um elemento natural da prática religiosa do homem em harmonia com a natureza, mesmo que este elemento seja constituinte de alguns.

0 comentários »